Safra da tainha torna-se período de disputa entre pescadores e surfistas em Florianópolis
As praias do litoral catarinense se tornam zona de conflito entre os dias 15 de maio e 30 de julho, época da safra da tainha. De um lado os pescadores, que esperam o ano inteiro para tirar toneladas da espécie do mar; do outro, os surfistas, apaixonados pelo esporte que precisam abrir mão da prática durante os dois meses.
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Enquanto os pescadores afirmam que o som da prancha batendo nas ondas espanta os peixes, os surfistas garantem que é exagero. A lei municipal 4.601, de 1995, permite a prática do desporto em Florianópolis apenas nas praias Mole e Joaquina durante este período. Mas nem todos os surfistas seguem a norma.
Na praia do Campeche, no sul da Ilha, por exemplo, o pescador Liberato Jorge Braz, 57 anos, diz que já perdeu a conta de quantas vezes tentou conversar com os esportistas e explicar que a lei existe. Ele afirma que atualmente o relacionamento entre os dois lados é mais civilizado, se comparado com 10 anos atrás.
O surfista Gustavo Fialho de Oliveira, de 39 anos, concorda. Ele afirma que ouvia muitas histórias no Campeche de brigas entre pescadores e surfistas. No entanto, o surfista garante que respeita os profissionais e quando vê barco no mar não entra na água.
Apesar dessa mudança de comportamento, os pescadores garantem que não adianta pedir para que os surfistas saiam da água quando o peixe é avistado: seria tarde demais. Eles ainda acrescentam que o surfe continua a ser praticado em área própria para a pesca.
— Mesmo que os surfistas estejam longe, o peixe não vai chegar na rede de arrasto. Vai se espantar antes e vamos perder um cardume inteiro que não voltará mais — explica o pescador.
Tramitação na Câmara
Uma mudança na lei 4.601/95 tramita na Câmara de Vereadores de Florianópolis. Proposto pelo vereador Marcos Aurélio Espíndola, o Badeko (PSD), o projeto de lei tenta mudar o artigo 5º, liberando o surfe nas praias da Joaquina, Mole, a até 500 metros do canto esquerdo da Lagoinha do Leste, 500 metros do canto esquerdo da praia do Matadeiro, além de trechos da praia da Armação, Morro das Pedras, praia do Moçambique e no canto esquerdo da praia Brava, até a Rua Sinésio Duarte.
O projeto recebeu parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça e está na Diretoria Legislativa. Tramitará na Comissão de Viação, Obras Públicas e Urbanismo, Comissão de Educação, Cultura e Desporto, Comissão de Turismo e Assuntos Internacionais, Comissão do Meio Ambiente e, por fim, na Comissão de Pesca Maricultura e Assuntos do Mar.
— Concordo com algumas mudanças nas praias, mas sempre tem que haver diálogo. Tem pontos em algumas em que poderiam ser colocadas bandeiras para sinalizar se pode ou não ter a prática. Mas tem que se pensar que o pescador tem que ser prioridade. Famílias dependem da pesca da tainha — afirma Juarez Tadeu dos Santos, presidente do Sindpesca.
GOMES, Emanuelle. Safra da tainha torna-se período de disputa entre pescadores e surfistas em Florianópolis.
Disponível em: https://goo.gl/5UTg25. Acesso em: 23/06/2017